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Poluição do ar: inimiga silenciosa da saúde

Moradores próximos a rodovias são expostos a níveis elevados de poluentes como o dióxido de nitrogênio (NO2) e partículas finas (PM2.5). blackday

Cuidar do meio ambiente não é questão de “mimimi”, mas uma necessidade crucial para a nossa saúde. A poluição do ar, por exemplo, tem impactos diretos e graves na nossa saúde cardiovascular, aumentando o risco de hipertensão, infarto e AVC. Estudos comprovam que a exposição prolongada a poluentes pode levar a inflamações crônicas e estresse oxidativo, condições que muitas vezes se desenvolvem de forma silenciosa até resultarem em problemas sérios. Portanto, adotar medidas para reduzir a poluição é essencial para nossa saúde e bem-estar de toda a população.

Doenças subclínicas: o perigo invisível

Muitas doenças cardiovasculares podem se desenvolver de forma subclínica, ou seja, sem apresentar sintomas evidentes até que atinjam um estágio avançado. A hipertensão arterial, por exemplo, é frequentemente chamada de “assassina silenciosa” porque pode passar despercebida até causar complicações severas. A aterosclerose, que é o acúmulo de placas nas artérias, também pode progredir sem sintomas até que resulte em eventos graves como infartos ou AVCs. A poluição do ar desempenha um papel crítico no desenvolvimento dessas condições, promovendo inflamação crônica e estresse oxidativo que danificam os vasos sanguíneos e aumentam a pressão arterial.

Estudos reveladores

Pesquisas como o estudo ELAPSE (Effects of Low-level Air Pollution: A Study in Europe) e o KPNC (Kaiser Permanente Northern California) demonstram uma clara associação entre a exposição prolongada à poluição do ar e a incidência de doenças cardiovasculares. Esses estudos mostram que a inflamação sistêmica e o estresse oxidativo causados pelos poluentes do ar podem levar a danos ao endotélio vascular, favorecendo a progressão da aterosclerose e, consequentemente, aumentando o risco de infarto e AVC.

Grupos de risco

Determinados grupos populacionais estão especialmente vulneráveis aos efeitos da poluição do ar. Moradores próximos a rodovias são expostos a níveis elevados de poluentes como o dióxido de nitrogênio (NO2) e partículas finas (PM2.5), que estão associados a um maior risco de desenvolver hipertensão e doenças cardíacas. Trabalhadores que passam o dia em ambientes com alta poluição, como fábricas e canteiros de obras, também enfrentam um risco elevado devido à exposição contínua a partículas e gases tóxicos.

Poluição do ar interno

A poluição do ar interno é outro fator preocupante, especialmente em lares que utilizam fogões movidos a querosene ou combustíveis sólidos. A inalação de fumaça e partículas finas nesses ambientes pode causar inflamação das vias aéreas e aumentar o estresse oxidativo, resultando em um maior risco de doenças cardiovasculares e respiratórias.

Impacto da poluição na pandemia de COVID-19

A pandemia de COVID-19 trouxe à tona mais um aspecto devastador da poluição do ar. A inflamação crônica e a diminuição da função pulmonar causadas pela poluição tornam os indivíduos mais suscetíveis a infecções respiratórias graves e complicações decorrentes do coronavírus. Estudos sugerem que áreas com níveis elevados de poluição do ar apresentaram taxas mais altas de mortalidade por COVID-19.

Medidas de prevenção

Para mitigar esses impactos é essencial adotar medidas para reduzir a exposição à poluição do ar. Entre as ações recomendadas estão a implementação de políticas públicas para reduzir emissões de veículos e indústrias, o incentivo ao uso de energias renováveis e tecnologias mais limpas, e a criação de áreas verdes nas cidades. Além disso, campanhas de educação e conscientização são fundamentais para informar a população sobre os riscos da poluição e as formas de proteção individual.

Esperança e ação

A boa notícia é que a redução da poluição do ar pode ter um impacto significativo na saúde pública. Estudos indicam que melhorias na qualidade do ar podem diminuir a incidência de infartos, AVCs e outras doenças cardiovasculares, resultando em uma melhor qualidade de vida e maior expectativa de vida. A comunidade médica e científica desempenha um papel crucial nessa luta, promovendo pesquisas, defendendo políticas ambientais mais rigorosas e educando a população sobre os riscos e as medidas preventivas.

Apesar do Dia Mundial do Meio Ambiente já ter passado, nunca é tarde para agirmos em prol de um ambiente mais saudável. Cada ação conta, desde políticas governamentais até escolhas individuais, todos podemos contribuir para um futuro melhor.

André Telis de Vilela, é médico, cirurgião cardiovascular, doutor em medicina pela UNIFESP e professor da UFPB. Colunista de saúde do Jornal da Paraíba, Tv Cabo Branco e rádio CBN